A Casa de Deus de Samuel Shem e o sistema médico em Angola
Stephen Berg, médico psiquiatra,
em entrevista ao Boston Globe falou da sua primeira e mais conhecida obra: “A
Casa de Deus” que assinou sob o pseudónimo de Samuel Shem. A entrevista
conduzida por outra médica psiquiatra centra-se nesta obra que já vendeu mais
de 2 milhões de cópias no mundo inteiro e desencadeou uma onda de ódios na
altura do seu lançamento em 1978.
Este romance autobiográfico, transformado
em comédia trágica retrata o ponto de vista de um médico estagiário sobre a
medicina exercida num dos melhores hospitais americanos: Casa de Deus.
Ao longo do livro descreve-se um
conjunto de humanos associados a um “sistema médico” que diariamente decidem
desistir ou persistir na humanidade. O livro relata em jeito de diário o
percurso do jovem médico que ao aceitar um estágio transita da vida estudantil para
a profissional. Convencido que detém todas as ferramentas que lhe permitirão
cumprir com zelo o juramento de Hipócrates atira-se no acto nobre de salvar
vidas.
Mas para seu espanto o desafio
não será exercer o que aprendeu para salvar vidas, mas usar do que não aprendeu
na universidade para manter a sua Humanidade, e devolver Humanidade à Casa de
Deus. O seu livro revela as torturas infligidas aos pacientes, o descaso e a
falta de ética na gestão quotidiana e o aproveitamento sexual. Neste quotidiano percebe-se o quão descartável e sem valor a é a vida humana. Neste filme de terror morrer
não é o pior! Mas dar o nome de negligência à morte é que é o verdadeiro dano
para a Casa de Deus. A vida só pode desejar ser salva se estiver coberta por um
seguro, caso contrário, nem um milagre.
O elevado grau de frieza não é
requisito para ser médico, mas é quase certo ser um bem adquirido neste estágio que submete a uma rotina diária que inclui a privação do sono, sobrecarga de
trabalho, e o confronto constante com a dor e a morte. Este desgaste emocional, sem pausa, leva os médicos a construírem personalidades frias e desprovidas de
ética. Samuel Sherm ao “denunciar em jeito de livro” um sistema médico onde a
vida humana não é o centro recebeu por parte da classe dos médicos mais velhos
críticas minadas de um ódio voraz. Surgiram acusações de ser um mau aluno, péssimo
médico e ingrato; Mas o dedo já estava na ferida e esta já dava sinais de
putrefacção!!! E para infortúnio da "velha guarda" os jovens médicos reviram-se neste livro que acabou por
despoletar debates que permitiram alterar a dinâmica dos hospitais. Atualmente os
hospitais implementaram escalas de dor que pretendem evitá-la ao máximo,
humanizando os hospitais. E por outra, percebe-se que os médicos são humanos que não podem trabalhar horas sem fim e que também necessitam de acompanhamento psicológico.
África - A mortalidade elevada em parturientes e crianças.
Num país onde
existe um médico por 4 mil pacientes não se pode esperar um serviço humano na
relação paciente/médico nem com baixos índices de mortalidade ou erro médico. E se acrescentarmos a fa
É duro lidar com
os factos e reconhecer os erros; mas como diria Shem é a única forma de salvar as
vidas dos médicos e pacientes. Após a fase de perseguição inicial por revelar o
que ainda não era entendido como um problema, Shem viu o seu livro ser a base
para uma revolução.
No fundo, para
Shem "se viveres o tempo suficiente as pessoas que te odeiam ou morrem ou
reformam-se". E pelos vistos ele viveu o suficiente para assistir às mudanças
que a sua coragem trouxe.
Esta coragem reflectida em livro deve-se à sua infância infeliz que o tornou à semelhança de muitos escritores num ser introspectivo e empático! E esta reflexão sobre o que rodeia resume-se em dois temas primordiais:
- resistência à injustiça;
-poder da
conexão na cura.
A entrevista simples informa sobre a importância do escritor na análise das diferentes situações quotidianas e no permitir a todos a possibilidade de repensarem a realidade e o que é assumido como lei.
Recomenda-se
esta obra a todos os técnicos de medicina e a todos aqueles que sentem que
pretendem transformar o mundo à sua volta: e nunca se esqueça que é
praticamente impossível servir a Deus e ao mesmo tempo ficar rico ao serviço da
saúde na função pública.
Lueji Dharma
Outubro de 2018
Lueji Dharma
Outubro de 2018
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