Nas voltas do Poder "que os fortes que fizeram o que quiseram sofram o que devem"
No contexto político, poder, é uma das palavras mais repetida
sobre uma teia opaca. Há o poder institucional, e segundo algumas teorias de
conspiração afiadas de má língua, há o verdadeiro poder. Nestes jogos de poder
até o rei eleito em sufrágio universal pode acabar manietado numa peça de
vários actos. Mas verdade absoluta é que nem o super-homem e nem a
superpotência estadunidense têm o poder total. Numa Terra única onde se
desenharam fronteiras de 200 países é preciso convencer diplomaticamente ou
coercivamente. E para ambas as situações deter o poder é condição sine qua non
seja ao nível militar ou da inteligência. Mesmo o mais poderoso despende
energia na criação de um imaginário onde se definem: bons, maus e neutros.
Não fosse os mass media o quarto
poder. Estruturado o guião e conhecidos os vilões iniciam-se as hostilidades
geoestratégicas. E como num bom filme de acção os bons sempre vencem, dos
neutros não reza a história.
Angola neste momento em jeito de Phoenix parece querer passar dos
“talvez bonzinhos” para os “bons certamente” moderando o diálogo Ilha de
Melos onde “os mais fortes fazem o que podem e os mais fracos sofrem o que
merecem”. Esta tensão interna entre um passado e um presente, mais fortes
e fracos alimenta o imaginário da política internacional. Os discursos em jeito de programas
exequíveis aliados a reformas estruturais doutrinadas por Bretton Woods soam a um
“Novo Rumo” perdido entre um “Já Voltamos”.
Antes amarrados por uma cinta de ferro que tornava desvantajoso
ajudar uma “nação em vias de falhar” validam-se esperanças de poder amarrar os
recursos da nação às boas políticas
monetárias internacionais. Este rating de Angola entre os “bons países”
trará com certeza consequências que evitarão o desfecho da Guerra do Peloponeso
onde Ilha de Melos convencida do apoio de Esparta e dos deuses negou-se a
aceitar a escravidão oferecida por Atenas.
E
porque nenhum homem ou país é uma ilha, Melos pagou com a vida dos seus
habitantes a ausência de consciência de quem detinha o poder. Mas
para que se conste nos autos Atenas considerou a insubordinação de Ilha de
Melos confinada a uma elite e contra a vontade de um povo sobre o qual “agem
com mais crueldade em relação aos vencidos”. Não
conferiam legitimidade à representatividade dos embaixadores de Melos cujo povo,
por suposição, preferia morrer nas mãos do inimigo do que de fogo amigo.
Verdade ou mentira esta divisão interna e crueldade da elite para com o povo
pode ter enfraquecido a percepção de Atenas e Esparta em relação às questões da
Ilha de Melos. E talvez esta “desunião” tenha sido determinante na invasão da Ilha
de Melos e inação de Esparta. E no abismo da rendição os embaixadores da Ilha
de Melos faziam uma última questão a Atenas: “Mas que vantagem poderemos ter em ser
escravos, em comparação com a vossa em dominar-nos?”
Que esperar desta escravatura
monetária que se avizinha?
Uma certeza é
de mudança. O país deixará de ser o solteirão bangão para em alambamento se
comprometer via “carta de Intenções” com o FMI. A carta de intenções integra as
medidas negociadas por ambos. Este casamento exige limpeza do sistema que só
pode ser realizado com um divórcio assente no princípio da separação de
poderes. No final feliz almejado saímos da autodestruição imposta pela
doença holandesa, pelo monopólio e pela corrupção endémica e reestruturámos a
nossa economia e política fiscal. Para o mensageiro do FMI nem se trata de
reestruturação, mas de criação de uma economia. E antes que os nguvulus alvejem o mensageiro articulando
uma justiça soberana, e nos condenem à crise venezuelana, considere-se um anjo
da prosperidade disfarçado de austeridade. À semelhança de Ilha de Melos
invoquemos um Deus que, apesar de nos oferecer um deserto no Kwanza
(desvalorização), reservou lá muito no final um oásis paradisíaco de dólares
verdes. Mas até o deus das Finanças se
vê atado numa disputa entre o “Pedido ao FMI” ou “a mboa fuga de capitais”.
Quem sabe o repatriamento de capitais verdes possam invocar os Guerreiros de
Xian movidos a Yuan Chinês, que Mélos não teve, de maquinaria intensiva made in
China que salve/construa a economia que o mensageiro propõe mas não faz. Um
Éden Verde que receba as “verdinhas mangas de biliões” que conseguiram
escapulir, deixando a mátria em busca de um paraíso fiscal com bom vinho Madeira
ou com livros feitos em papel de Panamá. E destes portos inseguros sejam
repatriadas, já banhadas em gordos juros, que nos permitam contratar uns
Espartanos truculentos que nos mantenham (à maioria) os “donos disso tudo”. Mas
não nos esqueçamos que Mélos pagou pelo erro de uma elite: “Os fortes fazem o
que podem e os fracos sofrem o que devem”. Há sempre um preço a pagar! Pelo que
se recomenda antes da rendição a um casamento sem amor “que os fortes que
fizeram o que quiseram sofram o que devem”.
LD e WS
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