O Homicídio de Patrice Lumumba (compilação de 11 textos sobre a RDC)




No texto de hoje ressuscitamos Patrice Lumumba (PL) o primeiro vice presidente eleito do Congo que acabou morrendo nas mãos de compatriotas seus a mando dos serviços de inteligência estrangeiros (Bélgica e Estados Unidos da América).


Patrice Lumumba Primeiro-Ministro eleito do governo do Congo

Este, considerado um herói pelo povo que o elegeu era denominado de forma codificada por "Satanás" pelos serviços de inteligência belga. Mas o que defendia Patrice Lumumba que lhe valeu uma alcunha tão negativamente poderosa? Na sua última carta à esposa escreveu:

"Nenhuma brutalidade, maus-tratos ou tortura jamais me forçou a pedir graça, pois prefiro morrer de cabeça erguida, minha fé firme e minha confiança profunda no destino de meu país, em vez de viver submisso e desprezado nestes princípios sagrados. A história terá um dia a sua palavra, mas não será a história que Bruxelas, Paris, Washington ou as Nações Unidas vão ensinar, mas aquilo que ensinarão nos países emancipados do colonialismo e dos seus fantoches. A África escreverá sua própria história e será, ao norte e ao sul do Saara, uma história de glória e dignidade."

A sua frontalidade nacionalista na política externa que queria encetar esteve na base da declaração de guerra que recebeu de Bruxelas, Paris e Washington. Talvez se tivesse recorrido a São Gabriel o padroeiro dos diplomatas para lhe incutir da astúcia em dizer o contrário do que pensava nas suas intervenções e discursos o crime pudesse ter sido evitado e o Congo vivesse uma história diferente. Atente-se à definição de Henry Wotton para diplomata: "um homem correto enviado ao estrangeiro para mentir por sua pátria". E porquê mentir? A resposta provém do antigo primeiro-ministro britânico Henry Jon Temple: "A Grã Bretanha não tem eternos aliados nem inimigos perpétuos, apenas interesses que são eternos e perpétuos". E com base nestas duas frases podemos definir a política externa da maior parte dos países: um jogo de interesses eterno e perpétuo. 

Perante o discurso "verdadeiro" e nacionalista de Patrice Lumumba, promovendo o fim dos interesses dos governos estrangeiros em detrimento do povo congolês, era evidente que comprara uma guerra do tamanho da riqueza dos minerais do Congo.  




                                           Patrice Lumumba Primeiro-Ministro com Dag Hammarskjold

A 27 de Julho de 1960 Patrice Lumumba e Joseph Okito (Vice Presidente do Senado Congolês) visitaram Nova Iorque a convite do então secretário de Estado das Nações Unidas General Dag Hammarskjold com o objectivo de obter apoios na consolidação do seu governo e estratégias governamentais; nesta estadia recebe o convite para reunir com o Secretário de Estado americano Christian Herter. Em Washington a conversa com o Christian Herter não encontrou consenso na ordem americana de bloquear o acesso da União Soviética à recém formada República Democrática do Congo. O departamento de Estado Americano tinha informação de que duas semanas após a independência do Congo Belga existiu uma solicitação de apoio militar de Patrice Lumumba à união soviética contra o "imperialismo belga". A intransigência de Patrice Lumumba leva à sua classificação pelo Departamento de Estado de "um indivíduo impossível de se lidar". 

Infelizmente para África, no dia 1 de Agosto de 1960 o presidente dos Estados Unidos - Eisenhower - preside a uma reunião do Conselho de Segurança Nacional cujo tópico prendia-se com a possibilidade de tomada das bases Bélgicas no Congo pela União Soviética. Os EUA não podiam dar-se ao luxo de perder o Congo para o seu principal inimigo. E perante, esta ameaça à soberania americana cresce o consenso que o fim justifica os meios.  A hipótese de entrada das tropas militares no Congo é validada pelo presidente Eisenhower. Quase na mesma altura no Pentágono, discute-se, segundo Dillon, uma forma mais cirúrgica de erradicar o novo governo liderado por Patrice Lumumba. 

Mas, antes, os EUA usaram a diplomacia das Nações Unidas através de Dag Hammarskjold para travar a relação entre Patrice Lumumba e a União Soviética. Mas PL quebra relações com a ONU e ameaça expulsar as forças da paz por considerar que apoiavam a continuidade da exploração dos minérios pelos colonos belgas. Esta ameaça de expulsão da ONU leva ao agudizar  da opinião do Presidente Eisenhower com desabafos como que Patrice Lumumba "deveria cair num rio cheio de crocodilos", ou que "temos de fazer o que for preciso para nos vermos livre dele". Este tipo de desabafo em reuniões do Conselho Nacional de Segurança poderão ter sido entendidas como uma ordem para matar como testemunhou Jonhson na Comissão do Senado dos Estados Unidos para estudar operações governamentais com respeito a atividades de inteligência.

Por esta altura o chefe da CIA no Congo - Lawrence Devlin - emite um relatório alarmante informando que o cenário apontava para uma formação de Um potencial Fidel Castro e uma nova Cuba.
Perante este perigo eminente o chefe da CIA Allen Dulles, conforme descreve Noam Chomsky, determinou a queda de Patrice Lumumba como urgente e prioritária. Havia também a necessidade de substituir esta liderança por outra mais maleável e de acordo com as necessidades ocidentais. Nesta altura traçam-se planos para eliminar PL e seus aliados recorrendo a agentes, entre eles Joe de Paris. O presidente do Congo, Joseph Kasa-Vubu, é aliciado a participar no assassinato de Lumumba mas recusa por questões de paz e por considerar não existir outro líder congolês à altura de Lumumba conforme relatórios de Devlin. Porém, a sua opinião acaba por mudar após se instalar conflitos armados no Congo com uso de armas e taques soviéticos por parte de PL que culminaram na morte de 1000 civis. Por esta altura exercendo da sua função de Presidente acacba por demitir o Primeiro Ministro - Patrice Lumumba - por comunismo. Esta acção promove o jovem Coronel Mobutu que se torna Presidente com o total apoio do EUA. 

Mesmo após esta mudança de poder a CIA continuava a considerar haver a possibilidade de um assalto ao poder por Mulumba e seus seguidores. Era segundo Devlin necessário aniquilar a influência de Patrice Lumumba embora tivesse objecções morais ao seu assassinato.  Porém o coronel Mobutu acaba por capturar Lumumba e os seus dois aliados Joseph Okito e Maurice Mpolo enquanto estes tentavam refugiar-se em Stanleyville. Posteriormente, Mobutu transfere Lumumba para Katanga área do seu inimigo Moise Tshombe. Relatos há que após terem sido espancados por soldados de Katanga, foram colocados em carrinhas e levados ao quartel general da CIA.




Joseph Okito, Patrice Lumumba e Maurice Mpolo


Após este envio de Patrice Lumumba e seus dois aliados  para Katanga a grande certeza é que foram os 3 mortos e torturados por congoleses sob a supervisão de mercenários belgas, a 17 de Janeiro de 1961. Embora a primeira versão noticiada no New York Times refire a sua morte a 14 de Fevereiro de 1961. Na verdade o assassinato coincide com o dia em que Eisenhower profere o discurso de despedida uma vez que perdeu as eleições para o jovem político John F. Kennedy. O mesmo apenas foi informado desta morte a 13 de Fevereiro numa altura em que Jaques Lowe capta a foto em que o mesmo lamenta o ocorrido.



Foto tirada a 13 de Fevereiro de 1961 no momento em que JFK é informado sobre a morte de Patrice Lumumba.

Após esta morte da liderança nacionalista nesta intricada teia de interesses, e como JFK previa, entra numa fase de declínio, guerra civil e delapidação da riqueza natural. Em 1965 Joseph Mobutu assume o poder instaurando uma ditadura militar que afundou o Congo num campo de batalha e guerra civil.

Mas porque a esperança é a última a morrer e a Vitória é Certa deixamos as palavras de Patrice Lumumba na sua última carta: "Não chore por mim, minha querida companheira. Sei que o meu país, que sofre tanto, saberá defender a sua independência e sua liberdade. Viva o Congo! Viva África!"



Lueji Dharma, 27 de Novembro 
Hubert Humphrey Fellw / MIT2013
Homenagem aos heróis africanos







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